13.1.17

14 anos depois de ti.



Chegamos a um ponto em que as fotos me faltam. As que tenho, em 14 anos, já as repeti. Outras, honrando o estatuto de única filha, quero-as só para mim, não me apetece partilhá-las. Entende-o como uma birra pela falta de partilha de braços de quem, como eu, perdeu o pai. Fui a única filha que te chorei. Não deixaste outra ou outro. E esse vazio - como foi o teu cancro - é incurável.
Há 14 anos, não houve outro alvo dos olhares de pena que não eu, descabelada, inchada, vestida de preto - depois de trocar a camisola vermelha que, ironicamente, optei por vestir naquela manhã de segunda feira -  há 14 anos.
Só te enterraram na quarta e neste 13 de Janeiro de 2017 continuo sem saber descrever o ruído dos sinos que te anunciavam a morte...das piores sensações que experimentei.
Anteontem à noite, enquanto esperava o sono da neta que não chegaste a conhecer desatei num pranto copioso que me tingiu de preto a almofada. O choro sufocou-me. Culpei-me por me permitir viver na tua morte, pelas gargalhadas que dei, pelas filhas que tive e pelo filho que ainda quero ter... Culpei-me por deixar que te vestissem a merda de um casaco que nunca usarias e não fora já o bastante ainda te enfiaram no pescoço uma gravata!!! Tu que em circunstância alguma as usaste colocaram-ta morto.
Apetece-me copiar a também falecida Maria Barroso e terminar com os "Dois sonetos de amor da hora triste" do Álvaro Feijó e dizer-te "não um adeus distante. ou um adeus de quem não torna cá. nem espera tornar. um adeus de até já. como a alguém que se espera a cada instante".

PS: não voltei a sentir-me menina sem o teu colo.


1 comentário:

  1. Por mais anos que passem nunca se recupera, aprende-se a viver com a dor. Um beijinho

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